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O último trem para a loucura

19 octubre, 2024

Era uma noite escura e chuvosa quando Matías chegou à estação de trem, um lugar desolado que parecia ter sido esquecido pelo tempo. As luzes piscavam, projetando sombras alongadas sobre as plataformas vazias. A chuva batia forte no chão, criando inúmeras poças que refletiam as luzes fracas. Ele havia perdido o emprego, e seu relacionamento havia desmoronado. O trem que ele estava esperando era sua última esperança, uma viagem para um lugar onde ele poderia recomeçar sua vida.

Enquanto olhava para o relógio da estação, sentiu um frio percorrer sua espinha. Os ponteiros pareciam se mover mais rápido do que o normal. O ar estava denso com uma tensão palpável, como se o mundo estivesse prendendo a respiração. Ele se aproximou da plataforma, onde um trem velho parou de repente, o apito da locomotiva ecoando na escuridão. As portas se abriram com um rangido, revelando um interior desgastado, mas acolhedor.

Sem pensar, Matías embarcou. Instantaneamente, sentiu que algo não estava certo. Nos compartimentos, outros passageiros o encaravam, seus rostos pálidos e vazios. Ele se sentou em um assento vazio e forçou-se a respirar calmamente, tentando ignorar a estranha sensação de desconforto que o envolvia. À medida que o trem começava a se mover, as luzes piscavam novamente, e uma risada distante ecoou no ar, fazendo seu coração disparar.

Conforme o trem avançava, as paisagens externas se transformavam em um manto borrado de escuridão. As sombras pareciam se esticar e torcer, como se quisessem entrar na cabine. Um homem no assento em frente a ele, com olhos profundos e escuros, começou a falar com ele. Suas palavras eram ininteligíveis, mas Matías sentiu uma estranha conexão, como se estivessem compartilhando um segredo.

“Estamos todos aqui por um motivo,” disse o homem, sorrindo de maneira inquietante. “Este trem nos leva a um lugar onde a verdade é revelada.” Matías franziu a testa, sentindo-se desconfortável. Ele não queria estar ali, mas se sentia preso.

De repente, o trem parou com um rangido ensurdecedor. As luzes piscavam antes de se apagarem completamente, mergulhando todos na escuridão. O murmúrio dos passageiros se transformou em gritos, e o ar se tornou pesado. Matías tentou manter a calma, mas o pânico começou a dominá-lo. O que estava acontecendo? Um silêncio ominoso seguiu a tempestade de vozes, e quando as luzes voltaram, ele descobriu que alguns passageiros haviam desaparecido.

A atmosfera se tornou opressiva, e toda vez que o trem avançava, Matías podia sentir algo à espreita. Uma sombra escura parecia estar presente em cada canto, sussurrando nos ouvidos dos outros passageiros. O homem em frente a ele, agora com um sorriso ainda mais largo, sussurrou: “A loucura não é um destino, é uma jornada.”

Aterrorizado, Matías olhou ao redor e percebeu que os rostos dos outros passageiros estavam começando a se distorcer, suas expressões se tornando grotescas e delirantes. Ele sentiu que estava perdendo a sanidade, preso em um trem que o levava em direção a um abismo insondável. As luzes piscavam novamente, e antes que pudesse reagir, o trem parou mais uma vez.

Desta vez, as portas se abriram para uma paisagem que parecia saída de um pesadelo. Um caminho coberto de névoa e sombras se estendia diante dele, e a risada dos desaparecidos ecoava à distância. Matías entendeu que não havia como escapar, que ele havia entrado em um ciclo do qual não poderia emergir.

Enquanto os outros passageiros começavam a desembarcar, ele permaneceu sentado, paralisado pelo horror. De repente, o homem em frente a ele se inclinou e sussurrou: “Não há como voltar, meu amigo. Este é o último trem para a loucura.” Com um movimento de sua mão, as luzes do trem se apagaram novamente, e Matías sentiu a escuridão o envolvendo.

Quando finalmente acordou, estava deitado em uma plataforma vazia, com o som distante de um trem se afastando. Sombras se moviam ao seu redor, mas ele estava sozinho. Sem saber se havia sonhado ou se tudo havia sido real, percebeu que a loucura começava a infiltrar sua mente. A estação estava deserta, e ao seu redor, a névoa espessa e fria avançava, como se estivesse reclamando dele. O eco de risadas e sussurros pairava no ar, lembrando-o de que, às vezes, a coisa mais aterrorizante não é o que está do lado de fora, mas o que está escondido nas profundezas da mente.