
As luzes da cozinha piscavam enquanto Ana preparava o jantar na casa de sua avó. A casa, localizada em um antigo bairro, tinha uma atmosfera densa, repleta de história. A avó sempre foi uma figura enigmática na vida de Ana, cheia de segredos que nunca se atreveram a discutir. Sempre que Ana perguntava sobre seu passado, a avó mudava de assunto ou caía em um silêncio desconfortável, como se estivesse falando de algo proibido.
Naquela noite, enquanto a tempestade rugia do lado de fora, Ana sentiu-se compelida a descobrir a verdade. Ela havia encontrado um velho diário no sótão, coberto de poeira e teias de aranha. As páginas estavam amareladas, e a caligrafia era trêmula, mas havia fragmentos que despertaram sua curiosidade. Falava de rituais, de sombras se levantando na noite e de um pacto sombrio que sua avó havia feito em sua juventude. Um arrepio percorreu a espinha de Ana, mas sua curiosidade a impulsionou a investigar mais.
Quando sua avó entrou na cozinha, Ana escondeu o diário, mas o olhar da velha mulher foi suficiente para fazê-la sentir-se presa. “Você gostou do sótão?” a avó perguntou em um tom que era ao mesmo tempo curioso e temeroso. Ana sorriu, mas uma parte dela sabia que havia cruzado uma linha. A avó se aproximou da janela, olhando para a escuridão do jardim, e Ana pôde ver um leve tremor em sua mão.
“Há coisas que não devem ser buscadas,” disse a avó, sua voz mal sendo um sussurro. Ana sentiu um nó em seu estômago, mas sua determinação cresceu. Naquela noite, enquanto sua avó dormia, decidiu voltar ao sótão e examinar o diário mais uma vez.
Enquanto lia, percebeu que os rituais descritos faziam parte de uma tradição antiga que havia sido passada por gerações. O último ritual mencionado era um sacrifício destinado a apaziguar uma entidade que assombrava sua família. Ana sentiu uma onda de terror, perguntando-se que tipo de ser poderia ser.
De repente, um grito ensurdecedor ecoou pela casa. Ana correu para o quarto da avó, mas quando chegou, encontrou a porta fechada. Ela bateu na porta, implorando para ser deixada entrar, mas não houve resposta. A cada segundo que passava, a ansiedade crescia, e a tempestade do lado de fora se intensificava, ressoando como um eco do caos dentro dela.
Finalmente, a porta se abriu, revelando sua avó com os olhos arregalados e o rosto pálido. “Você não deveria ter olhado,” ela advertiu, sua voz pesada de profundo medo. Ana tentou perguntar o que havia acontecido, mas sua avó a interrompeu. “Precisamos sair daqui.”
Aterrorizada, Ana seguiu sua avó para a sala de estar, onde um ar gelado envolveu o espaço. As sombras nas paredes pareciam se esticar e torcer, e um murmúrio incompreensível preenchia o ambiente. A avó começou a murmurar palavras em uma língua que Ana não conseguia entender, mas a urgência em sua voz era evidente.
Então, um estrondo alto ressoou pela casa, e as luzes piscavam antes de se apagarem completamente. Na escuridão, Ana sentiu um frio extremo e a pressão de uma presença desconhecida. Ela tentou ligar o celular, mas a tela permaneceu preta. O pânico a dominou ao sentir algo a observando.
Com um grito de desespero, Ana perguntou o que estava acontecendo, e sua avó se virou para ela com lágrimas nos olhos. “O que está dentro desta casa nunca saiu,” revelou em um tom que ressoava com resignação. “Fizemos um pacto para mantê-lo afastado, mas com sua curiosidade, você quebrou o selo.”
As paredes começaram a vibrar, e uma risada gutural ecoou na escuridão. Ana entendeu que a entidade estava esperando por uma oportunidade. A própria casa parecia ganhar vida, com objetos girando e o ar preenchido com um terror palpável.
Quando a risada parou, a avó agarrou as mãos de Ana com força. “Precisamos realizar o ritual,” disse em uma voz trêmula. Mas naquele momento, uma figura sombria emergiu das sombras, uma presença que parecia absorver a própria luz. Ana sentiu um pânico indescritível ao perceber que a figura era uma manifestação de tudo que sua família tentara esconder.
Com um último esforço, a avó começou a recitar as palavras do ritual, mas o terror havia crescido demais. A figura se aproximou delas, e Ana viu dentro dela um reflexo distorcido de sua própria imagem, cheio de desespero e perda. Naquele momento, ela entendeu que não estavam apenas lutando por suas vidas, mas que o segredo de sua avó também era o segredo de sua própria existência.
A escuridão engoliu a sala, e o último grito da avó se perdeu no ar enquanto Ana ficou sozinha na penumbra, presa no legado de um pacto sombrio que transcendeu o tempo. Com o coração acelerado, percebeu que o verdadeiro horror não era a entidade, mas o segredo que carregava dentro de si, um segredo do qual nunca poderia escapar.