
A chuva caía impiedosamente, criando poças no caminho que levava à mansão Alvarado, uma antiga propriedade que havia sido abandonada por décadas. Os moradores sussurravam sobre o jardim da mansão, um lugar que, diziam, era amaldiçoado. Ninguém se atrevia a se aproximar, pois dizia-se que aqueles que o faziam nunca mais eram vistos.
Laura, uma jovem estudante de arquitetura, decidiu explorar a mansão em busca de inspiração para seu projeto final. Apesar dos avisos dos anciãos da aldeia, sua curiosidade superou seu medo. Equipando-se com uma lanterna e uma câmera, ela se aventurou na vegetação ao redor da propriedade, sentindo o ar ficar mais denso à medida que se aproximava.
O jardim, coberto de ervas daninhas e flores murchas, parecia ganhar vida sob a luz de sua lanterna. As árvores se erguiam como sentinelas na escuridão, e a vegetação selvagem se entrelaçava com objetos esquecidos: brinquedos quebrados, móveis cobertos de mofo e pedras que pareciam ter inscrições antigas. À medida que avançava, um arrepio percorreu sua espinha. Havia algo estranho na atmosfera, uma sensação de estar sendo observada.
Laura parou em frente a um lago coberto de algas, e ao se inclinar para tirar uma foto, viu seu reflexo distorcido. Mas ao seu lado, uma sombra se movia na água. Virando-se rapidamente, não encontrou ninguém, apenas o silêncio do jardim. Respirando fundo, tentou se convencer de que sua mente estava pregando peças. No entanto, um grito distante cortou o ar, fazendo-a tremer.
À medida que a chuva se intensificava, decidiu continuar. Ela se aventurou mais fundo no jardim até chegar a um gazebo em ruínas. Dentro, encontrou um diário desgastado que continha contos de almas aprisionadas no jardim, seus desejos e medos refletidos nas páginas amareladas. Enquanto lia, sentiu uma conexão inquietante com as histórias. As palavras pareciam ressoar em sua mente, como um eco de seus próprios anseios e medos.
De repente, o céu escureceu ainda mais, e a chuva parou. Um silêncio avassalador preencheu o jardim. Laura sentiu algo a chamando, um sussurro vindo das sombras. Incapaz de resistir, seguiu o som até um velho carvalho, onde uma porta escondida no tronco se abriu de par em par. Atraída pela curiosidade, ela entrou.
Dentro, a atmosfera era completamente diferente. A luz era suave e quente, mas o ar estava carregado de tensão palpável. Ela percebeu que havia entrado em um mundo alternativo, onde as almas daqueles aprisionados no jardim caminhavam entre as sombras. Cada uma tinha um rosto familiar, reflexos de pessoas que ela conhecia: amigos, familiares, até mesmo conhecidos de sua infância.
“Por que você está aqui?” perguntou uma das figuras, com uma voz melancólica. “Você não sente o chamado deste lugar? Aqui somos livres, livres de nossos medos.” Laura sentiu seu coração acelerar, presa entre o desejo de escapar e a atração que sentia por aquele mundo. As figuras começaram a se aproximar, cada uma compartilhando suas histórias de desespero e anseios não realizados.
Enquanto ouvia, uma revelação a atingiu: ela não era apenas uma exploradora, mas havia sido escolhida para se tornar parte daquele jardim. Um grito sufocado escapou de seus lábios ao perceber que o jardim não apenas aprisionava almas; ele também se alimentava de sua própria tristeza e desejos. Tentando fugir, encontrou a porta por onde havia entrado, mas estava selada.
De repente, as figuras começaram a rir, uma risada que ecoava em seus ouvidos, misturando-se com o eco de desejos não realizados. Laura se sentiu presa, um reflexo das almas perdidas ao seu redor. Em um momento de desespero, lembrou-se do diário e do que havia lido sobre como quebrar a maldição. Com determinação, virou-se para as sombras e gritou: “Eu não sou como vocês. Eu não vou ficar aqui.”
Com essas palavras, uma luz brilhante emergiu do carvalho, envolvendo-a em uma esfera de energia. O jardim começou a tremer, e as figuras se desvaneceram no ar. Laura sentiu-se sendo puxada de volta pela porta enquanto os gritos das almas ecoavam em sua mente.
Quando finalmente caiu ao chão no jardim, o sol brilhava sobre a vegetação murcha, e o ar parecia leve. Mas ao olhar ao redor, viu que o lago agora refletia sua própria imagem, e nas profundezas, as figuras a observavam com olhos vazios. Presa entre dois mundos, Laura percebeu que havia escapado do jardim, mas nunca poderia escapar de seu legado sombrio. No final, ela agora fazia parte da história daqueles que haviam sido esquecidos, um eco no jardim das almas perdidas.