
O vento soprava com uma intensidade incomum naquela noite, carregando consigo uma sensação de inquietação. Em uma pequena aldeia, longe da agitação da cidade, Clara se viu sozinha em sua casa, um antigo edifício da família que já teve dias melhores. As paredes estavam cobertas de poeira, e o ar cheirava a umidade, uma combinação que sempre provocou uma estranha melancolia nela. No entanto, nos últimos dias, ela sentia que algo mais estava à espreita nas sombras.
Desde que sua mãe faleceu, Clara vinha lutando contra um profundo vazio. Ela encontrou consolo nas cartas que sua mãe lhe deixara, repletas de memórias e conselhos. Mas em uma das cartas, uma frase chamou sua atenção: “Nunca ignore o sussurro do vento, Clara.” Esse aviso começou a assombrá-la, especialmente à noite, quando o vento parecia carregar palavras incompreensíveis, como uma canção distante.
Uma noite, enquanto se preparava para dormir, um uivo do vento a acordou. Ela se sentou na cama, com o coração acelerado. As sombras em seu quarto pareciam se mover, e pela janela, ela viu a lua cheia, grande e brilhante, lançando uma luz fria no chão. Foi então que ela ouviu um sussurro, claro e distinto: “Clara… venha.”
O pânico a invadiu, mas também uma curiosidade inexplicável. Seria sua mãe? Seria apenas sua mente pregando peças nela? Apesar do medo, ela se levantou e se aproximou da janela. Do lado de fora, o vento girava folhas secas, criando formas que pareciam dançar ao ritmo de um batida antiga. O sussurro soou novamente, mais alto: “Clara, venha para a floresta.”
Após um momento de hesitação, Clara se vestiu e saiu de casa. O ar do lado de fora estava frio, e o vento parecia envolvê-la em um abraço gelado. Ela caminhou em direção à floresta que fazia limite com sua casa, um lugar que sempre sentiu ser um refúgio, mas que agora parecia sinistro. À medida que se aventurava na escuridão, a luz da lua filtrava-se através dos galhos, criando sombras inquietantes que pareciam se mover com vida própria.
Ao chegar a uma clareira, o sussurro se transformou em um murmúrio incessante, como se mil vozes estivessem falando ao mesmo tempo. Clara parou abruptamente, e o vento pareceu parar com ela. No centro da clareira, havia um velho carvalho, seu tronco torto e galhos nus uma visão perturbadora, como se a árvore estivesse capturando os ecos das almas que haviam passado por ali.
De repente, algo chamou sua atenção. Aos pés do carvalho, havia uma pequena caixa de madeira coberta de musgo. Clara se agachou e, tremendo, a abriu. Dentro, encontrou uma série de cartas desgastadas, semelhantes às de sua mãe, mas com nomes que não reconhecia. No topo de uma delas, leu o nome de sua avó, seguido de um aviso: “Não siga o sussurro do vento, ou você perderá seu caminho.”
O coração de Clara afundou ao perceber que o aviso se referia a ela. As cartas continham relatos de outros que seguiram o sussurro, apenas para desaparecer sem deixar vestígios. Uma sensação de terror a envolveu, mas antes que pudesse reagir, o vento soprou com força, arrancando a caixa de suas mãos. Clara pulou, mas o vento começou a girar ao seu redor, criando um redemoinho de folhas e sussurros que ecoavam em sua mente.
“Clara, venha…” As vozes se intensificaram, e naquele momento, ela sentiu uma presença ao seu redor, como se a floresta estivesse viva, exigindo sua atenção. Na confusão, Clara lembrou-se do que havia aprendido com sua mãe: nunca deixar o medo tomar conta. Com todas as suas forças, ela gritou: “Não, eu não vou te seguir!”
O vento parou abruptamente, como se tivesse sido atingido. As vozes se transformaram em um lamento triste, e Clara percebeu que havia recuperado o controle. Ela se virou e correu de volta para casa, sentindo a floresta resistir à sua saída, como se não quisesse deixá-la ir. Cada passo era uma luta, mas a visão de sua casa, iluminada pela luz da lua, a impulsionou para frente.
Finalmente, ela conseguiu alcançar a porta e fechá-la com força, deixando o vento e o murmúrio do lado de fora. Ela se encostou na porta, respirando pesadamente, sentindo o frio que ainda a cercava. No silêncio, ouviu o sussurro novamente, mas desta vez era diferente. Em vez de chamá-la, parecia ser um aviso. “Não esqueça o sussurro do vento.”
Clara sentou-se no chão, tremendo, e entendeu que a floresta e o vento estariam sempre lá, uma força misteriosa que ela nunca poderia ignorar. O medo permaneceu dentro dela, um lembrete constante de que, às vezes, os ecos do passado são mais reais do que se quer acreditar. Desde então, o vento nunca parou de sussurrar para ela, mas Clara já sabia que, embora pudesse ouvi-lo, nunca o seguiria novamente.