
Quando Laura herdou a antiga casa de seu avô, ela não podia acreditar em sua sorte. A casa, localizada em uma rua isolada e coberta de hera, era uma joia arquitetônica, mas também carregava um ar de mistério. Ao chegar, ela encontrou a casa em estado de abandono, cada cômodo escuro e empoeirado, como se o tempo tivesse parado. No entanto, foi o segundo andar que realmente chamou sua atenção. No final do corredor, uma porta trancada se erguia, solitária e ominosa.
Os vizinhos haviam avisado Laura sobre aquele cômodo. “Nunca deve ser aberto”, disseram a ela. “A família do seu avô tinha razões para mantê-lo fechado.” O aviso ecoava em sua mente, mas sua curiosidade era mais forte. Por dias, ela se obsessou com a ideia do quarto trancado, perguntando-se que segredos ele guardava. À noite, o silêncio da casa a envolvia, e os ecos de sua própria respiração pareciam se amplificar.
Uma tarde, armada com uma ferramenta de arrombamento que havia encontrado entre os pertences de seu avô, Laura se aproximou da porta. A sensação de que algo a observava cresceu dentro dela, mas ela não podia voltar atrás. Com um clique, a fechadura cedeu, e a porta rangeu ao abrir, ressoando no corredor. Ao cruzar o limiar, uma brisa fria a envolveu, e o ar pesado dificultou sua respiração.
O cômodo era um espaço pequeno e sombrio, envolto em uma escuridão quase palpável. As paredes estavam preenchidas com retratos antigos, todos com olhos que pareciam segui-la. No centro, uma mesa estava coberta com um pano branco, e quando ela o removeu, descobriu uma série de objetos estranhos: bonecas desgastadas, frascos cheios de líquidos coloridos e um diário de aparência envelhecida.
Ao folhear o diário, percebeu que ele pertencera a seu avô. As páginas estavam cheias de desenhos inquietantes e descrições de rituais sombrios. Suas mãos começaram a tremer enquanto ela lia sobre uma entidade que supostamente habitava o cômodo, algo que poderia manipular os medos e desejos daqueles que entravam.
De repente, ela ouviu um sussurro atrás dela, um som fraco que parecia vir das paredes. “Deixe-me sair”, disse uma voz distorcida. Laura sentiu seu coração disparar. Ela se virou, mas o cômodo estava vazio. A cada palavra que lia, o ar ficava mais frio, e a sensação de estar sendo observada se intensificava. “Deixe-me sair”, a voz repetiu, e desta vez soou mais perto, mais insistente.
Num impulso, Laura correu em direção à porta, mas percebeu que estava trancada. Ela se virou de volta para o cômodo, sua mente em caos, e viu que os retratos haviam mudado. Os rostos de seus ancestrais pareciam se distorcer, seus olhos agora cheios de desespero. “Você não deveria ter aberto a porta”, sussurraram em uníssono.
Desesperada, ela começou a bater na porta, mas não houve resposta. A voz ficou mais alta, ressoando em sua cabeça. “Ajude-me, Laura.” Foi nesse momento que uma sombra emergiu da escuridão. Era uma figura longa e amorfa, com um rosto que mudava, mostrando os rostos daqueles que haviam sido aprisionados ali.
Laura sentiu uma mistura de horror e compaixão. “O que você quer de mim?” ela perguntou, sua voz mal sendo um sussurro. “Libere-me”, disse a criatura, estendendo uma mão em sua direção. Laura percebeu que havia libertado algo mais do que sua curiosidade; ela havia libertado um terror antigo. A sombra começou a se aproximar, e Laura sentiu o tempo parar.
Em um esforço final, ela se lembrou das palavras de seu avô sobre o cômodo e seu propósito. Com o diário em mãos, leu em voz alta uma passagem que parecia conter um aviso. De repente, a sombra parou, recuando com um grito angustiante. O cômodo começou a tremer, e as paredes pareciam se fechar sobre ela.
Quando finalmente conseguiu abrir a porta e sair, a casa parecia diferente. Havia um silêncio avassalador, mas a sensação de estar presa havia desaparecido. No entanto, quando olhou para trás, viu que o cômodo estava fechado novamente, a porta selada. Laura percebeu que havia deixado algo para trás: seu avô, a sombra ou talvez uma parte de si mesma.
Enquanto se afastava da casa, o vento sussurrava entre as árvores, levando embora o aviso. Mesmo tendo escapado, ela sabia que a escuridão sempre estaria à espreita, esperando que sua curiosidade a guiasse de volta ao quarto trancado. Em sua mente, uma pergunta persistia: ela realmente havia escapado, ou o cômodo a aprisionara para sempre?